Há algum tempo venho ensaiando o início da escrita das minhas impressões, seguindo o mesmo procedimento que solicito aos meus alunos da Rede Camões para os jornais escolares. A falta de tempo e coragem tem sido um obstáculo, uma vez que deparo-me com muitos absurdos. Além disso, há outro fator a ser considerado: o rigor científico parece ter drenado minha criatividade. Constantemente, tenho a sensação de estar infringindo alguma métrica ou método, o que desencoraja a escrita sem receio de cometer erros, sem aguardar uma revisão rigorosa, entre outros receios.
A escola, nos três anos em que leciono em unidades periféricas, revela-se, acima de tudo, como um mecanismo de coerção. Permitam-me não citar referências para não comprometer minha reflexão. É muito mais fácil seguir as orientações dos governos “x” ou “y” do que persistir naquilo em que acredito, resistir e manter a esperança…
Isso faz com que minha passagem pela educação tenha uma data de validade definida. A cada ano que passa, a correnteza se torna mais forte, e a capacidade de resistir e se segurar firmemente na margem lamacenta enfraquece.
A burocracia é essa correnteza direcionada por uma agenda governamental ideológica que, nos últimos anos, tem se pautado pelo obscurantismo educacional e científico. A escola é um local de resistência, mas será que sua resiliência é suficiente? Observo alguns colegas que compartilham dessa mesma visão, mas cuja prática é autoritária e disciplinadora.
Estamos nas periferias para adestrar?
-Sente certo!
-Organize as fileiras!
-Silêncio!
Entrar em uma sala de aula significa, acima de tudo, confrontar-se com a complexidade social que desafia nossas convicções sem piedade! É também um comprometimento quase que exclusivo, pois se você parar por um minuto, a correnteza do rio já terá levado o hoje embora, e você ficará para trás…
