Eliminar a desigualdade não é um debate, é um dever constitucional

“Oh! Mundo tão desigual / Tudo é tão desigual” – Gilberto Gil não estava fazendo poesia. Estava apontando o dedo na ferida podre de um país que sempre soube muito bem quem paga e quem lucra. A notícia de que apenas 141 mil brasileiros – sim, só isso, menos que a lotação do Maracanã – serão os únicos a “arcar” com a isenção do IR para 10 milhões de trabalhadores não é generosidade. É confissão. Confissão de que a desigualdade brasileira tem CPF, endereço e conta no exterior.

Eduardo Galeano já desmontava esse jogo há décadas: “Os senhores das minas e das plantações, dos comércios e dos bancos, jogavam xadrez em Paris enquanto seus capatazes açoitavam o povo nas colônias.” Nada mudou. Só o açoite que hoje vem em forma de juros abusivos, aluguéis estratosféricos e salários de fome. Os mesmos 141 mil que choram para pagar 27,5% sobre meio milhão por mês são os donos dos bancos que cobram 300% de juros do pobre, dos latifúndios que engolem terras públicas, dos imóveis vazios que inflam a crise habitacional.

A Constituição, em seu Artigo 3º, não sugere – ordena – a redução das desigualdades. Quando o governo diz que “não há política mais humanista”, está apenas cumprindo o mínimo. O verdadeiro escândalo não é a isenção – é termos normalizado que:

  • 6 bilionários tenham mais riqueza que os 100 milhões mais pobres;
  • 1% do topo concentre 49% de toda a renda do país;
  • Enquanto isso, 33 milhões passem fome no mesmo território onde se exporta carne para o mundo.

“A novidade era a guerra / Entre o feliz poeta / E o esfomeado”, cantava Gil. Pois essa guerra tem trincheiras definidas. De um lado, os que acham “justo” pagar R$ 50 mil de IR sobre rendas de R$600 mil/ano (ou seja, menos de 10%). Do outro, os que sobrevivem com R$ 1.300 por mês e agora terão – pasmem! – o “privilégio” de não serem sangrados pelo Leão.

Galeano avisou: “A história é um profeta com o olhar voltado para trás: do que foi, contra o que foi, anuncia o que será.” O recado está dado. Ou mudamos pelas leis – taxando fortunas, cobrando dívidas históricas, redistribuindo terra e renda – ou a mudança virá pelas ruas. Porque como diz o povo: “Tudo tem limite, menos a paciência do pobre.”

O momento é agora. Os donos da desigualdade estão com o nome, RG e patrimônio expostos. Resta saber: de que lado você vai ficar quando a conta – a de verdade – finalmente chegar?

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