📚 A Tetralogia Nonsense: quatro tentativas de explicar o sentido da vida


Para quem procura o sentido da vida — e já percebeu que ele talvez não esteja nos livros certos, mas nos errados —, a tetralogia nonsense de Antonio Archangelo oferece quatro desvios radicais. Não há doutrina, apenas ruínas. Não há mapa, apenas linguagem em estado de combustão. Composta pelos livros Ápeiron, Homeomerias, Nheengatu e Ataraxia, a obra propõe quatro vias distintas — e complementares — para abordar a pergunta mais antiga da humanidade: por que existimos?

Cada livro apresenta uma resposta parcial, por uma lente específica:

  • Ápeiron busca o sentido da vida pela palavra
  • Homeomerias, pela fé
  • Nheengatu, pela cultura
  • Ataraxia, pelo prazer

A trilha que une essas obras é o nonsense: não como despropósito, mas como método poético-filosófico de escavar camadas subterrâneas do ser. O nonsense aqui opera como rebelião contra a forma, como crítica contra o literal, como antídoto contra o vazio da palavra domesticada.


🌀 Ápeiron — O sentido da vida pela palavra

Arché: Anaximandro | O indeterminado como origem

Neste primeiro livro, Archangelo propõe uma ontologia semântica: a palavra não serve para explicar o mundo — ela é o próprio mundo em erupção. Por meio de neologismos, colapsos sintáticos e ritmo pré-lógico, Ápeiron desestabiliza o idioma e propõe uma linguagem anterior à razão. É a gênese do verbo, uma glossa cósmica.

Inspirado no arché de Anaximandro, Ápeiron mergulha na indeterminação como matriz de todas as coisas. A poesia de Archangelo nesse volume não tenta domar a linguagem; ela a libera em estado bruto. O poema “Gipsófila” é exemplo cristalino desse gesto: “Sesquipedalofobia de tato tectônico / Usufrutário da vigaronidade”. Neologismos, termos raros e sons inusitados substituem qualquer sentido previsível.

Em “Hirto“, a poesia se faz imagem plástica do espanto, em que o “genuflexório” e o “jenipapo núcio” compõem um cenário onde o real se curva diante da alucinação verbal. O nonsense é estrutura e destino. Em “Desagoneio“, Archangelo utiliza a forma de trova ou redondilha maior para sugerir, em repetição melódica, a experiência de espera, amor e perda. A quimera evocada é tanto mulher quanto linguagem.

O Ápeiron poético é um universo onde a palavra ainda não foi reduzida à comunicação. Ela é matéria em efusão.

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🔮 Homeomerias — O sentido da vida pela fé

Arché: Anaxágoras | O todo em tudo

Se Ápeiron é a linguagem em estado primordial, Homeomerias é a ascese fragmentada do verbo em direção ao divino. Repleto de referências ao hinduísmo, à teosofia, ao hermetismo e à gnose, este livro invoca conceitos como Parabrahman, Akasha, Fohat, Pralaya e Tat. O resultado é uma teopoética do colapso: mantras quebrados, revelações irônicas e orações que parecem zombar da própria transcendência.

Inspirado em Anaxágoras, Homeomerias traz a idéia de que cada parte carrega o todo. Aqui, Archangelo radicaliza essa perspectiva com influências gnósticas, cabalísticas e herméticas.

Em “Ogdóade“, o Poimandres hermético encontra o Pleroma, o arqué de todas as potências. O poema assume tom de escritura antiga: “Deixai-me a punição na Ogdóade / Vibrando no canto inaudível / Do Bem que sucede as trevas”. A justaposição de binômios paradoxais (“bondade-cúpida”, “verdade enganadora”) reforça a ideia de que, na criação, não há pureza metafísica.

Escala a naberius” é um poema de ascensão e recusa: a vontade inferior, a sabedoria inferior, os gritos. A iluminação está na travessia, não no resultado. Em “Hoshana“, a criação divina é reescrita como mito de busca e separação: Deus cria o homem e o submete aos elementos, entregando-lhe anjos como mediadores do caos.

O nonsense aqui é ritual, é glossolalia sagrada. É uma linguagem mística em estado de ruína e revelamento.

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🌎 Nheengatu — O sentido da vida pela cultura

Arché: Brasil | A língua como ruína e reinvenção

Único livro da série a romper com a lógica dos nomes gregos, Nheengatu mergulha nas raízes do Brasil colonial para fazer da língua um campo de batalha. Inspirado na língua geral e na crítica antropofágica, o livro devora cânones, mistura dialetos, ironiza narrativas oficiais e reinventa a identidade por meio do erro. Aqui, o nonsense é político — um gesto de insurgência linguística.

Neste volume, o fio condutor não é mais a origem grega, mas a língua como campo de batalha no Brasil. Em “Genealogia dos fracos“, Archangelo desfaz a moral normativa: “Lutando contra a genealogia dos fracos, / a democracia dos otários-manias”. A poesia é insurgência contra a linguagem colonizada. A “epopeia rupestre” é tentativa de salvar-se pela palavra impura.

Em “Necrochorume“, temos uma elegia suja, um lamento que mistura a morte de Policarpo e Jasmim com “licorosas frustrações desta vida”. Aqui, o corpo é matéria em decomposição simbólica. Já em “Ode a Tupã“, o indígena não é um mito romântico, mas um ser ancestral que, por meio da natureza, denuncia o projeto civilizacional ocidental.

Nheengatu é o livro da revolta e da mistura. Sua intertextualidade é com Oswald, Viveiros de Castro, Darcy Ribeiro e o pó do chão.

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🌸 Ataraxia — O sentido da vida pelo prazer

Arché: Epicuro (e Dionísio) | O corpo como altar

Ao contrário do estoicismo sereno que o título sugere, Ataraxia é um livro inquieto, erótico e filosófico. A poesia celebra o corpo, o toque, a lascívia e o humor como vias de revelação. A linguagem é pulsante, sensorial, provocativa — e a própria forma do poema se contorce entre gozo e falência. Aqui, o prazer não é fuga: é método ontológico.

Inspirado em Epicuro, Ataraxia não oferece serenidade, mas revela o desejo como campo de lutas. Em “Ataraxia“, o poema-título, Archangelo mostra a condição humana como ciclo noturno e repetitivo: “Como ratos que passam a noite, / buscamos alimentos e a procriação…”. A saída é a consciência da própria prisão, e talvez, o riso.

Em “Crioulês“, a língua é corpo insubmisso: “Filho destronou o pai, / E foi ser gauche na vida!”. A língua portuguesa é reconfigurada como corpo mestiço, mestiçado, sem pureza. Em “Cynar“, bebida, sono, verso e nonsense formam um amálgama cerebral: “transcendo-me na penumbra orbicular do absurdo”.

Aqui, o prazer é também morte, é dissolução, é ironia. Ataraxia é uma festa interrompida por um espelho.

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🧩 Um tratado fragmentado sobre o ser

A tetralogia nonsense de Antonio Archangelo constitui uma das mais singulares e radicais empreitadas poéticas da literatura brasileira contemporânea. Não se trata de um projeto confessional ou meramente experimental, mas de uma investigação ontológica feita por meio da linguagem — ou do colapso dela.

Cada livro é um hemisfério de sentido. Juntos, formam uma cartografia filosófico-poética da existência em tempos de ruído. Ao mesmo tempo místico, político, sensual e metafísico, o projeto aponta não para uma resposta única, mas para uma constelação de possibilidades.

A tetralogia de Antonio Archangelo não explica o sentido da vida. Ela o tensiona por quatro vias: a palavra (Ápeiron), a fé (Homeomerias), a cultura (Nheengatu) e o prazer (Ataraxia). Em todas, o nonsense opera como arqué: como origem pré-lógica, como resistência ao sentido imposto, como experimentação ontológica radical.

Trata-se de um dos projetos poéticos mais ousados da literatura brasileira recente, onde o delírio é método e a filosofia é escrita no corpo da linguagem.

Antonio Archangelo atravessa a tradição dos pré-socráticos com os pés descalços da periferia brasileira. Ele reinventa o arché: não mais o princípio da ordem, mas o da desobediência.

Não se sai ileso desses livros. E talvez esse seja seu maior mérito.


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