Universidades públicas enfrentam queda expressiva enquanto modelo de avaliação privilegia produtividade acadêmica segundo padrões globais e ignora contexto social
O Center for World University Rankings (CWUR) divulgou sua edição de 2025 do ranking mundial de universidades. O levantamento, que avalia mais de 20 mil instituições com base em critérios de empregabilidade, pesquisa e qualidade do corpo docente, mostrou uma tendência preocupante: das 54 instituições brasileiras listadas, 47 caíram em relação ao ano anterior, sendo que algumas perderam entre 25 e 166 posições em apenas 12 meses.
Entre as poucas exceções positivas, destacam-se:
- UFRJ, que subiu 70 posições;
- FURG, UFTM e UFMS, com avanços de cerca de 30 posições;
- UTFPR, com avanço de 10 posições;
- UNICAMP e UnB, com pequenas variações positivas.
Ainda assim, o Brasil manteve apenas seis universidades entre as 500 melhores do mundo, segundo o CWUR:
- USP (118ª),
- UFRJ (331ª),
- UNICAMP (369ª),
- UNESP (454ª),
- UFRGS (476ª),
- UFMG (497ª).
A metodologia do ranking é baseada em sete critérios divididos em quatro grandes áreas:
- Educação (25%) – sucesso acadêmico dos ex-alunos;
- Empregabilidade (25%) – posição de destaque no mercado de trabalho;
- Corpo Docente (10%) – número de professores premiados;
- Pesquisa (40%) – quantidade, impacto e citações de artigos científicos em periódicos de alto prestígio.
O CWUR afirma que seus dados são obtidos de bases como Clarivate Analytics, sem uso de pesquisas de opinião ou dados enviados pelas próprias universidades.
Para o professor e doutorando em Educação Escolar pela UNESP, Antonio Archangelo, a queda expressiva das universidades brasileiras não deve ser explicada apenas por questões de gestão ou desempenho, mas sim compreendida como efeito direto do projeto político-econômico de desmonte do ensino superior público no Brasil.
“Não é natural que 47 de 54 universidades caiam no ranking em apenas um ano. Isso é o reflexo da precarização crônica que enfrentamos: congelamento orçamentário, atraso em repasses, colapso das estruturas de permanência estudantil e desmonte de políticas científicas nacionais”, afirma Archangelo.
Segundo ele, o CWUR expressa uma pedagogia da normalização global, que define o que é ser “boa universidade” por critérios alheios ao contexto latino-americano. Inspirado nas reflexões de Michel Foucault, Archangelo aponta que os rankings são dispositivos de controle, que impõem às universidades uma lógica de produtividade e prestígio que favorece a adaptação aos interesses de mercado.
“É uma forma de governo por indicadores. A culpa não é da universidade que caiu, mas do Estado que a abandonou. O ranking, nesse sentido, atua como uma tecnologia de disciplinamento: estimula uma corrida por publicações em inglês em periódicos elitizados, em detrimento da pesquisa voltada à transformação social e à democratização do saber”, explica.
O pesquisador também recorre à análise de Vera Peroni (UFRGS) para destacar como a gestão educacional brasileira vem sendo absorvida pela lógica neoliberal:
“A universidade passa a ser auditada, mensurada, enquadrada. Quando cai no ranking, a responsabilidade é individualizada — quando na verdade estamos diante de uma política de Estado mínimo para os pobres e máximo para o capital”.
Para Archangelo, é urgente retomar a discussão sobre qual é o projeto de nação para o ensino superior público:
“Subir no ranking sem questionar o ranking é correr rumo ao abismo com um sorriso. Precisamos de políticas públicas estruturantes, que valorizem o ensino superior como vetor de soberania, não como unidade de negócio submetida a métricas coloniais”.
📌 Para saber mais:
- CWUR 2025 – Ranking completo
- Metodologia CWUR
- Análise crítica sobre políticas públicas educacionais – PERONI, 2008
