🗳️ Partidos sem povo: Rio Claro vive crise de representação mesmo após eleições municipais


Portal Archa | 7 de junho de 2025

As eleições municipais de 2024 terminaram, os vereadores eleitos já estão empossados e o novo mandato do Executivo começou oficialmente em janeiro. Mas a pergunta que permanece no ar é: quem, de fato, representa os interesses da população de Rio Claro? Um levantamento do Portal Archa revela que, mesmo após o processo eleitoral, a maioria dos partidos políticos da cidade atua no piloto automático, com diretórios instáveis, suspensos ou inativos.

Segundo dados do Sistema de Gerenciamento de Informações Partidárias (SGIP) da Justiça Eleitoral, Rio Claro conta oficialmente com 15 partidos em situação vigente, sendo apenas seis com diretórios definitivos. Os demais operam com comissões provisórias, em ciclos curtos e recorrentes de anotações e inativações, o que fragiliza qualquer estrutura partidária de base.

🎭 Política de fachada

Embora as siglas estejam formalmente “vigentes”, muitas delas não possuem filiação ativa visível, sede física, atuação pública ou canais de comunicação atualizados. Há casos de partidos que sequer prestaram contas, como o PV, suspenso por esse motivo. Outros, como o PRTB, Solidariedade, PSB, PROS e DC, mantiveram movimentações internas recentes, mas já se encontram novamente inativos ou suspensos.

A multiplicação de diretórios provisórios revela mais uma estratégia burocrática do que uma vida partidária real. O que vemos em Rio Claro é uma disputa política sem base popular, feita por meio de alianças personalistas e cartórios partidários.

🧱 Democracia sem mediação

O resultado é um cenário político desprovido de mediação institucional. Os partidos — que deveriam organizar a vontade popular, promover debates programáticos e garantir a formação política — atuam como siglas de aluguel ou trampolins eleitorais. Isso compromete a qualidade da democracia representativa e reforça a desilusão popular com a política.

Dos partidos que lançaram candidatos em 2024, alguns sequer possuem diretórios formalizados atualmente, indicando uma dissociação entre estrutura eleitoral e vida orgânica. Além disso, diversas siglas mostram históricos de constante suspensão ou inativação por descumprimento das regras básicas da Justiça Eleitoral.


📌 Quem são os partidos “vigentes” hoje em Rio Claro?

PartidoTipo de DiretórioSituaçãoVigência até
PSD (55)DefinitivoVigente30/04/2026
MDB (15)DefinitivoVigente30/06/2025
PSDB (45)DefinitivoVigente26/08/2025
PT (13)DefinitivoVigente15/09/2025
PP (11)DefinitivoVigente06/04/2027
PSOL (50)DefinitivoVigente10/10/2026
UNIÃO (44)ProvisórioVigente28/02/2026
REPUBLICANOS (10)ProvisórioVigente30/11/2026
PL (22)ProvisórioVigente08/02/2026
PDT (12)ProvisórioVigente09/11/2025
PODE (20)ProvisórioVigente31/12/2025
AGIR (36)ProvisórioVigente31/07/2025
CIDADANIA (23)ProvisórioVigente09/10/2025
PV (43)ProvisórioSuspenso18/07/2025
Federação PT-PCdoB-PVProvisórioVigente01/05/2032

🔍 O que está em jogo

A ausência de estrutura partidária sólida em nível municipal compromete a fiscalização do poder, o acompanhamento do Plano Diretor, o debate sobre orçamento público, saúde, educação, cultura, transporte e moradia. O vazio deixado por essas legendas é ocupado por projetos pessoais, grupos econômicos e, não raramente, por conchavos com pouca ou nenhuma transparência.


🧮 Retotalização de votos e nova regra pode fortalecer partidos pequenos

Em meio à crise de representatividade, uma recente decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pode abrir nova janela para partidos pequenos e médios voltarem a disputar espaço institucional com mais competitividade. A Corte determinou a retotalização de votos de 2022 com base em uma regra já prevista na legislação, mas até então ignorada: a obrigatoriedade de que os candidatos eleitos por “sobra” de vagas (o quociente partidário) tenham atingido pelo menos 20% do quociente eleitoral individualmente.

Isso significa que partidos que se fortalecerem localmente — mesmo sem grandes bancadas — e atingirem votações expressivas em seus quadros podem conquistar cadeiras antes inacessíveis.

Com a retotalização nacional, sete deputados federais devem perder o mandato: Sonize Barbosa (PL‑AP), Prof. Goreth (PDT‑AP), Dr. Pupio (MDB‑AP), Silvia Waiãpi (PL‑AP), Gilvan Máximo (Republicanos‑DF), Lebrão (União‑RO) e Lázaro Botelho (PP‑TO). Eles serão substituídos por figuras de partidos como PCdoB, PSOL, PSB, Podemos e Republicanos, o que aponta para uma mudança possível no mapa da representação nacional e um respiro para partidos de esquerda e centro-esquerda.

Na prática, essa mudança favorece:

  • Candidaturas coerentes com suas comunidades, ainda que fora do centrão político;
  • Partidos de base ideológica, minorias ou movimentos populares com votos concentrados e engajamento real;
  • A possível renovação das Câmaras Municipais em futuras eleições, inclusive a de Rio Claro, caso os diretórios vigentes consigam se estruturar e lançar nomes comprometidos.

A regra dos 20% pode ser uma oportunidade para democratizar a representatividade, desde que os partidos se organizem de verdade.

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