GENEBRA | 19 MAI 2025 — “A saúde está colapsando para milhões e a resposta precisa começar pela base: a atenção primária”. O recado foi direto e urgente. Em plena 78ª Assembleia Mundial da Saúde, o diretor da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde), Dr. Jarbas Barbosa, subiu ao palco do Fórum de Saúde Global da Foreign Policy para denunciar o óbvio que muitos governos fingem não ver: há uma crise de acesso à saúde nas Américas – e o Brasil não está imune.
🩺 Segundo ele, 35,2% da população da região tem necessidades médicas não atendidas. O número passa dos 40% nos países mais pobres. Na prática: são milhões de pessoas sem consultas, exames, vacinas, diagnósticos ou remédios. E o problema mais invisível — a saúde mental — atinge mais de 160 milhões de pessoas, a maioria sem nenhum atendimento, estigmatizada e abandonada.
“É hora de priorizar a atenção primária, reverter o subfinanciamento e usar as ferramentas digitais já disponíveis para democratizar o acesso à saúde”, disparou Barbosa.
📉 Hipertensão, diabetes e câncer: tratamento falha, mortes evitáveis crescem
A denúncia da OPAS vai além:
- Só 36% dos hipertensos têm a pressão sob controle;
- Mais de 38% dos diabéticos não recebem tratamento adequado;
- O câncer do colo do útero, que poderia ser eliminado com vacina contra o HPV e testes precoces, segue matando mulheres por falta de cobertura básica.
O diretor reforçou que a vacinação contra o HPV ainda está muito abaixo dos 90% esperados, e os testes de HPV só foram implementados em poucos países da região. “Temos o conhecimento, temos os insumos, mas faltam políticas públicas ousadas, investimento e vontade política”, alertou.
💡 Fundos Rotativos e Telessaúde: soluções já existem, mas governos ignoram
A OPAS tem um dos mecanismos mais eficazes da região para resolver parte do problema: os Fundos Rotativos Regionais, que garantem acesso a medicamentos e insumos a preços justos, com qualidade controlada e entrega segura. Mas poucos países os utilizam plenamente.
“Oferecemos insulina, metformina, vacinas, testes e equipamentos para monitoramento a um único preço. E mesmo assim, há resistência dos governos em aderir”, afirmou Barbosa.
Na era da digitalização, a OPAS também lançou o Roteiro Pan-Americano de Saúde Digital, com foco em telessaúde, prontuários digitais, certificação e compartilhamento de dados de forma segura e ética. A proposta, iniciada durante a pandemia, agora é expandida para fortalecer um novo modelo de saúde pública: descentralizado, digital, comunitário e inclusivo.
Barbosa destacou ainda a Plataforma Tudo-em-Um da OPAS, de código aberto, gratuita e baseada em padrões internacionais, que pode ser adotada por qualquer país, inclusive pelo Brasil, para acelerar a transformação digital no SUS.
💬 Investimento real, não retórica: saúde como prioridade, não discurso
A proposta da OPAS vai além da teoria. Atualmente, mais de US$ 1,2 bilhão estão sendo investidos em projetos nacionais de saúde digital, em parcerias com o BID, Banco Mundial e CAF.
O apelo de Barbosa é claro:
“A transformação digital é um investimento essencial para sistemas de saúde resilientes, inclusivos e voltados ao futuro. Mas ela não acontece sozinha. É preciso prioridade política.”
✊ Por que isso importa para o Brasil?
A realidade descrita pelo diretor da OPAS é o retrato de muitas periferias brasileiras, onde falta estrutura, insumos, acesso e cuidado contínuo. Em um momento em que o país debate cortes e privatizações, o alerta global mostra que o mundo inteiro está olhando para a atenção primária como eixo central de políticas públicas em saúde.
📢 Se a saúde pública é um direito, quem está garantindo esse direito no dia a dia?
📢 Por que governos ainda ignoram alternativas viáveis como os Fundos Rotativos da OPAS e a saúde digital de código aberto?
O Portal Archa seguirá cobrindo, questionando e propondo. Porque saúde é vida — e vida não pode esperar.
