O rio-clarense precisa abrir os olhos. Deixar de se comportar como Jeca Tatu: aquele que paga a pena e permite que façam tudo à sua revelia.
Para muitos, o que vale é a fábula do pote de mel.
Alguns se aproximam com etiqueta dos recursos públicos, metem a colher com calma, mas não deixam de lambuzar o pote. Outros, mais afobados, entram na sala sem cerimônia. Enfiam a mão inteira, sujam o rosto, os cabelos, deixam digitais por todo lado — e, quando não são pegos no flagra, estão ali, de cócoras, se alimentando feito um esfomeado.
A moral da fábula é simples: o poder continua sendo visto como banquete nas Terras de Ulysses. E quando um filho da periferia chega ao poder e, em vez de transformar as estruturas, prefere andar de Uber mais caro, pedir o prato mais caro no restaurante do centro e posar como rei Momo em carro do ano — o que se vê é apenas mais um terno novo sujo com o dinheiro público.
Mudando de pato pra ganso: o que se vê hoje é uma ausência profunda de projeto coletivo. Juninho emergiu rachado com seu padrinho político e governou sem grupo. Terceirizou a inteligência política e assinou o que lhe colocaram na mesa. O resultado? A conta chegou: a devolução de R$ 100 milhões. Não sombrou um santo para lhe dar abrigo…
Gustavo, por sua vez, é lido e esperto. Não terceirizou a inteligência administrativa da máquina, mas também emergiu de um racha e governa sem base sólida, com isso, se reelegeu. A diferença? Governa com autonomia, mas também sem grupo.
Grupo não é um conjunto de pessoas que obedecem ao prefeito, mas um grupo de indíviduos que se unem em prol de uma meta em comum, neste caso, o futuro da cidade. Ambos possuem/possuíram pessoas aleatórias que gravitam em torno do “rei-sol” por objetivos pessoais. Problema que não é exclusivo da Cidade Azul…
Ambos assistem seus governos afundarem. E por quê? Porque dependem de gente sem experiência, sem capacitação e, pior, sem projeto. Os chamados mosquitos da vez. Um colocou todos os jornalistas críticos no governo, para evitar críticas. O outro, sem nenhum critério, deu espaço para gente sem espiríto público.
Eis o desafio que se impõe: terá o atual alcaide capacidade de formar um grupo que vá além da bolha de bajuladores, dos sedentos por cargos e contratos?
O primeiro não teve. E a cidade, que já havia enterrado os senhores de engenho que sugaram seus recursos e bloquearam seu futuro, que ainda vivem de sombras progenitas, olhou para essas duas figuras com alguma esperança. Mas assiste, com desalento, que nem um nem outro souberam formar liderança — muito menos grupo.
Rio Claro não precisa de beijinho no rosto nem de tapa nas costas. Também não precisa de megalomania e de uma cidade fictícia. Precisa de projeto. De horizonte. De visão de cidade.
Porque quando se entrega a chave da cidade a uma pessoa — e não a um grupo com propósito — o resultado é este que estamos vendo: o presente afundando, e o futuro naufragado junto.

CAMARÁRIAS é a coluna escrita por Chico Bento do Gogó da Ema para o Portal Archa que não passa pano. Porque já tem vereador demais passando. E no próximo pleito, vote direito!
