🎥 Pela primeira vez, influenciadores e plataformas de vídeo superam a mídia tradicional na América Latina

Relatório de 2025 mostra declínio da confiança, novas formas de consumo informativo, uso crescente de IA e desafios de sustentabilidade para o jornalismo na região

Por Redação Archa | 19 de junho de 2025

O ano de 2025 marca um ponto de inflexão no ecossistema midiático da América Latina. Pela primeira vez desde o início do monitoramento, influenciadores digitais e plataformas de vídeo superaram a mídia tradicional como fontes de informação para a maioria da população, segundo o Digital News Report 2025, divulgado pelo Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo.

A pesquisa, conduzida em 48 países por meio de questionários online aplicados pela empresa YouGov, revela que a audiência de canais tradicionais — como jornais impressos, sites jornalísticos e emissoras de TV — segue em declínio acentuado, ao passo que criadores de conteúdo, políticos, comentaristas independentes e youtubers ganham espaço, especialmente entre os mais jovens.


📉 Colapso silencioso da mídia tradicional

Nos seis países latino-americanos analisados (Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru), o relatório constata uma perda sistemática de relevância dos veículos tradicionais no consumo cotidiano de notícias.

“A dependência das redes sociais é alta em toda a região, e os veículos tradicionais têm presença digital bastante fraca”, afirma Nic Newman, autor principal do estudo.

Na Argentina, o canal Luzu TV, transmitido no YouTube com linguagem informal e interação direta com o público, foi citado por 8% dos entrevistados como principal fonte de notícias. No Brasil, jornais como Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo apostam em videocasts diários para tentar reverter a perda de leitores — com impacto ainda limitado. No México, canais independentes como Sin Máscaras e Sin Embargo atraem milhões de seguidores e influenciam o debate público com presença no YouTube e na TV pública (Canal Once).


🎬 Vídeo e algoritmo como nova mediação informacional

O estudo revela que o consumo de notícias por plataformas de vídeo cresce vertiginosamente, principalmente via TikTok, YouTube e Instagram.

  • Na Colômbia, 27% dos entrevistados consomem notícias pelo TikTok — aumento de 5 pontos em um ano.
  • No Peru, o crescimento foi de 6 pontos.
  • O modelo de “live jornalismo” misturado com entretenimento domina esse novo cenário, dissolvendo as fronteiras entre informação e performance.

Com isso, os critérios editoriais tradicionais perdem centralidade, sendo substituídos por relevância algorítmica, engajamento e viralização. A notícia não chega mais pela manchete ou pelo destaque da redação — mas pelo feed.


🤖 Chatbots de IA: novo ator no consumo de notícias

Pela primeira vez, o relatório inclui dados sobre o uso de inteligência artificial generativa no acesso à informação. Globalmente, 7% dos usuários já utilizam IA (como ChatGPT, Bing ou Bard) para se informar, sendo 15% entre jovens com menos de 25 anos.

Na América Latina, a média atual é de 6%. Contudo, o crescimento é exponencial. A IA começa a se consolidar como um novo filtro de acesso à realidade — ainda que cercado por ceticismo e incertezas sobre confiabilidade.

“O que ainda não está claro é como as pessoas estão usando esses recursos: elas estão pedindo as manchetes do dia ou querem aprofundar temas específicos?”, questiona Amy Ross Arguedas, coautora do relatório.

Enquanto isso, veículos tradicionais começam a testar a IA como ferramenta interna: no Brasil, redações como Globo e Estadão já usam IA para transcrição de áudios, roteiros de vídeo, resumos automáticos e análise de dados — sempre com supervisão humana, segundo afirmam.


📉 Confiança em baixa, consumo em alta

A confiança global no jornalismo permanece estagnada em 40%. Na América Latina, a média é de 36,3%, com queda acentuada no Brasil (-12 pontos) e na Colômbia (-8). Apenas Peru e Chile mantiveram estabilidade.

“Nos anos 1990, o jornalismo tinha prestígio. Hoje vivemos o oposto. Estamos fazendo algo muito errado”, afirma Abel Escudero Zadrayec, consultor do Instituto Reuters.

Paradoxalmente, a mídia tradicional ainda é o principal recurso para checagem de fatos e confirmação de notícias urgentes — como mostram os dados do Brasil, onde Globo, G1, Record, CNN Brasil e Band seguem como fontes preferenciais para breaking news.


💰 Crise financeira e dependência de modelos frágeis

A crise de confiança é acompanhada por um cenário econômico frágil. A proporção de pessoas que pagam por notícias digitais não ultrapassa 18% na região. O Peru lidera com 18%, enquanto o Chile aparece com a menor taxa, 10%.

Com a recente suspensão de fundos internacionais dos EUA, muitos veículos independentes terão que buscar novos modelos de receita. No México, jornais como El Universal apostam em modelos híbridos: assinatura impressa + conteúdo digital premium.

“Poucos estão dispostos a pagar por notícias online. A transição será lenta, e nem todos sobreviverão a ela”, alerta Newman.


🧭 O que está em jogo: mediação da verdade em tempos de ruído

O relatório é um alerta para o jornalismo profissional, mas também um espelho do que se tornou o consumo de notícias em tempos de saturação informativa. A ascensão dos influenciadores, o poder das plataformas e o uso de IA colocam em xeque quem media, quem edita, quem valida e quem lucra com a verdade.

Para o Instituto Reuters, o futuro da notícia dependerá menos de formatos e mais de credibilidade, adaptabilidade e relação com o público. Para a sociedade latino-americana, o desafio será reconstruir a confiança sem abrir mão da pluralidade e do rigor informativo.


📖 Leia a matéria original na LatAm Journalism Review

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