São Paulo, o estado mais rico do país, que tanto se orgulha de ser locomotiva do Brasil, resolveu terceirizar seu futuro político para um carioca que até ontem não sabia o caminho para Campinas. Entregou o governo para Tarcísio de Freitas — um homem que não conhece a história, os problemas, a cultura ou a alma paulista, mas que se revelou hábil em uma coisa: ser o elo de ligação entre o bolsonarismo tosco e o establishment que finge não vê-lo.
Agora, essa aliança cobra seu preço.
O anúncio de Trump de impor tarifas de 50% aos produtos brasileiros que entram nos EUA, a partir de 1º de agosto, é mais do que uma manobra comercial. É chantagem diplomática explícita para proteger Bolsonaro, seu aliado ideológico, das consequências criminais por ter tentado um golpe de Estado. E quem vai pagar essa conta não é Brasília, não é o STF. É o interior paulista.
É Limeira com sua laranja para a Flórida. É a carne de boi de Rio Preto e Araçatuba. É a indústria de Rio Claro, orgulhosa de ter nos EUA seu maior cliente. É o porto de Santos, que vai sentir o baque. É a arrecadação dos municípios. É o emprego do trabalhador.
Sim, foi esse interior paulista que deu a Bolsonaro vitórias expressivas em duas eleições consecutivas, mesmo quando perdeu no plano nacional em 2022. Foi esse estado que se encantou com o discurso moralista e anticorrupção enquanto aceitava calado o orçamento secreto. Foi esse eleitorado que trocou o debate político por memes de WhatsApp, que trocou o PSDB — com todos os seus pecados, erros e defeitos — por uma extrema direita ruidosa, anti-intelectual, anti-institucional.
Porque São Paulo não elegeu Tarcísio apesar de Bolsonaro. Elegeu Tarcísio por causa de Bolsonaro. E o establishment paulista — parte dele, ao menos — fingiu não ver. Preferiu a aposta cínica de que, passado o histrionismo eleitoral, o novo governador seria um “bom gerente”, um “técnico”.
Pois o técnico agora posa sorridente com boné MAGA, elogia Trump, ignora a diplomacia brasileira e se coloca, na prática, como aliado de um presidente americano que decidiu chantagear nosso país.
É o cúmulo do servilismo.
Trump não escreveu uma carta ao Brasil. Ele escreveu uma carta aos empresários paulistas: ou parem de processar meu amigo ou vou destruir suas exportações. E Tarcísio, o governador que deveria proteger a economia do estado, age como garoto-propaganda do chantagista.
O mais constrangedor? Horas antes do anúncio oficial das tarifas, foi o Congresso Nacional — a Câmara dos Deputados — que aprovou uma moção de louvor a Trump, a pedido do PL. Sim, o Partido Liberal. Liberal só no nome, porque de liberalismo econômico não tem nada: elogia quem ameaça taxar em 50% nossas exportações para defender um golpista.
Enquanto Trump preparava a faca, eles lhe enviavam flores.
Quem vai pagar essa conta?
O trabalhador. O exportador. O produtor rural. A cidade média que vive de comércio impulsionado pela indústria. A arrecadação que banca saúde e educação.
E quem explica isso para o povo paulista?
A mesma imprensa que ajudou a pintar Bolsonaro como outsider “patriota”? Que até anteontem se esforçava para transformar Tarcísio em “moderado”, “gestor”, “opção racional”?
A conta chegou.
Ela chegou também porque o Brasil destruiu seu centro político. Porque o MDB se apequenou. Porque o PSDB paulista, dominado por oportunistas sem voto, abriu mão de sua identidade para surfar na popularidade do capitão. Porque o centro foi substituído pelo centrão, que não governa — chantageia.
E hoje até o governo federal, eleito para combater o bolsonarismo, é refém de um Congresso que se tornou correia de transmissão da extrema direita.
Por isso, é tão difícil ter uma reação unificada, firme, nacional à chantagem de Trump. Porque o país se acostumou a confundir moderação com covardia, pragmatismo com cumplicidade.
Agora o eleitor paulista precisa se olhar no espelho.
Quer mesmo continuar aceitando a narrativa fácil de que o problema é “Brasília” enquanto vota em gente que entrega o estado ao golpismo? Quer continuar se orgulhando de ter eleito um governador que não defende São Paulo, mas apenas seu próprio projeto de poder?
A fatura chegou. E não há desconto.
As tarifas americanas que passam a valer em 1º de agosto não são apenas um ataque econômico. São um aviso brutal sobre o custo de se ter escolhido ser capacho ideológico.
E a pergunta que fica para São Paulo — esse estado que se orgulha tanto de sua liderança — é: vai continuar aceitando ser governado por quem não defende o povo paulista, mas apenas seu próprio projeto de poder?
E, por fim: Faça São Paulo grande Novamente!
