A desinformação, alimentada pelas fake news, representa uma ameaça crescente à administração pública municipal no Brasil. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR) destaca como as fake news têm afetado diretamente a confiança da população nas instituições públicas e comprometido a execução de políticas públicas essenciais.
A pesquisa, publicada recentemente na Revista PPC – Políticas Públicas e Cidades, revela que as prefeituras estão enfrentando sérios desafios para lidar com a desinformação, e sem protocolos específicos, a comunicação institucional se mostra vulnerável à propagação de rumores. As implicações são concretas e afetam desde campanhas de vacinação até a imagem institucional dos governos locais.
Fake News e os Danos à Governança Municipal
O estudo, realizado em uma prefeitura do interior do Paraná, envolveu a análise de dados de 45 servidores municipais e 14 vereadores. A pesquisa revelou que 75% dos servidores públicos e 83% dos vereadores já lidaram com casos de fake news que interferiram diretamente nas ações da administração pública. Entre os impactos mais graves, destacam-se:
- Atrasos em obras públicas: Boatos sobre irregularidades em projetos de infraestrutura afetaram diretamente a execução de obras municipais, gerando desconfiança e resistência da população.
- Crises em campanhas de vacinação: A circulação de informações falsas sobre vacinas prejudicou o andamento de campanhas de imunização, afetando a adesão da população e colocando em risco a saúde pública.
- Boicotes a programas públicos: Informações errôneas sobre a destinação de recursos públicos e programas sociais causaram desconfiança, boicotes e atrasos na implementação de políticas essenciais, como na educação e assistência social.
“Esses dados revelam que a desinformação não é apenas um incômodo para os gestores, mas um desafio real que compromete a governança e a execução de políticas públicas fundamentais”, afirma a pesquisa, que chama atenção para a ausência de estratégias claras para enfrentar as fake news dentro da administração pública.
A Comunicação Institucional: Fragilidade e Falta de Resposta
Os portais institucionais das prefeituras, como o Portal da Transparência e as redes sociais, muitas vezes não estão preparados para responder eficazmente às fake news. A pesquisa aponta que, embora esses canais sejam usados para divulgar informações, eles falham em oferecer respostas rápidas e desmentidos sobre boatos que circulam entre a população.
“A comunicação pública precisa ser mais ágil e transparente”, afirma Moura e Matos (2021), citados no estudo, defendendo que as prefeituras adotem práticas comunicacionais mais eficazes e proativas. A análise revelou que a falta de seções específicas nos portais oficiais para desmentir boatos e esclarecer informações falsas agrava ainda mais a situação.
Capacitação dos Servidores: O Ponto de Partida
Outro problema identificado foi a falta de capacitação dos servidores públicos para lidar com a propagação de fake news. De acordo com os dados, 90% dos servidores entrevistados não tinham conhecimento de protocolos formais de resposta a fake news. Isso é ainda mais grave, considerando que muitos servidores, especialmente nas áreas de saúde e educação, são os primeiros pontos de contato com a população e, portanto, estão diretamente expostos às notícias falsas.
A pesquisa ressalta que “a falta de treinamento e preparo institucional compromete a eficiência das respostas a crises informacionais”, e a Pereira e Mendes (2022) apontam que essa lacuna deve ser preenchida com capacitação contínua em comunicação e segurança informacional.
Propostas de Soluções: O Caminho para Reverter o Cenário
A pesquisa também sugere uma série de soluções práticas para melhorar a comunicação institucional e enfrentar a desinformação. Entre as principais propostas estão:
- Criação de protocolos formais de resposta à fake news, com fluxos claros para desmentidos rápidos e organizados.
- Capacitação contínua de servidores e vereadores em comunicação e mediação digital, para garantir respostas rápidas e precisas.
- Campanhas educativas e informativas, com linguagem acessível e voltadas à alfabetização midiática, utilizando rádios locais, escolas e redes sociais.
- Fortalecimento dos canais de comunicação direta com a população, como a criação de WhatsApp institucional, chatbots ou plantões telefônicos, para permitir uma interação mais eficaz e rápida com o cidadão.
Essas ações são fundamentais para “restaurar a confiança pública e fortalecer a legitimidade institucional”, como enfatizam os pesquisadores. O uso estratégico das redes sociais, com ferramentas de escuta ativa, também é apontado como essencial para monitorar e responder rapidamente à desinformação.
A pesquisa conclui que a desinformação não pode mais ser tratada como um fenômeno isolado ou secundário. Ela exige uma resposta institucional estruturada, com protocolos claros, comunicação transparente e capacitação contínua dos servidores públicos. “Combater a desinformação é um compromisso com a verdade, com a cidadania e com a sustentabilidade da administração pública”, afirmam os pesquisadores, alertando que a falta de ação pode resultar em uma erosão irreversível da confiança pública e da eficácia das políticas públicas.
Referências:
- Wardle, C., & Derakhshan, H. (2017). “Information disorder: toward an interdisciplinary framework for research and policy making.”
- Moura, M., & Matos, H. (2021). “Comunicação pública como estratégia de cidadania: desafios diante da desinformação.” Revista Comunicação & Sociedade.
- Pereira, C. D., & Mendes, V. F. (2022). “Capacitação de servidores públicos para enfrentamento à desinformação.” Revista Brasileira de Gestão Pública.
Publicado na Revista PPC – Políticas Públicas e Cidades (v.14, n.4, p. 01-18, 2025).
DOI: https://doi.org/10.23900/2359-1552v14n4-19-2025

Serão tantas “FAKE NEWS ? OU SÃO CRIADAS PARA DISTRAIR?
Yahoo Mail: Pesquise, organize, aproveite
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