O debate sobre cidadania digital ganha cada vez mais relevância em um cenário em que a Inteligência Artificial (IA) se infiltra em múltiplas dimensões da vida social, da educação à política, do entretenimento ao trabalho. A difusão acelerada dessas tecnologias exige da escola não apenas o domínio técnico das ferramentas, mas, sobretudo, a capacidade de estimular nos jovens o pensamento crítico diante dos impactos sociais, éticos e culturais da IA.
Essa é a principal conclusão do artigo “Cidadania digital e inteligência artificial: estratégias pedagógicas para o desenvolvimento do pensamento crítico”, assinado pelos pesquisadores Márcio Silveira Nascimento (IFAM) e Éber José dos Santos (PUC-SP, FATEC Cruzeiro), publicado na Revista de Educação e Ciências Humanas (REVEC).
Aprendizagem ativa como caminho
Com base em uma pesquisa qualitativa aplicada ao ensino médio, os autores demonstram que práticas pedagógicas ativas — como debates, produção de textos e análise crítica de situações cotidianas mediadas por IA — contribuem para a formação de sujeitos autônomos e socialmente responsáveis.
“A cidadania digital não se restringe ao uso instrumental da tecnologia. Ela envolve a reflexão crítica sobre seus efeitos, riscos e possibilidades”, afirmam Nascimento e Santos.
Entre as atividades realizadas, destacaram-se propostas em que os estudantes foram convidados a discutir, por exemplo, como algoritmos de recomendação influenciam o consumo cultural e como a automação modifica relações de trabalho. Para os autores, essa abordagem coloca a juventude como protagonista, capaz de questionar os limites e as promessas da IA.
Desafios: da desinformação ao controle digital
O texto alerta ainda para os perigos de uma cidadania digital acrítica, marcada pela dependência de ferramentas digitais e pela vulnerabilidade à desinformação. A IA, nesse sentido, aparece como um “campo de disputa” que pode tanto favorecer a emancipação quanto ampliar mecanismos de vigilância e exclusão.
“A formação cidadã exige que a escola promova não só o acesso, mas também a consciência crítica para enfrentar os riscos da cultura digital contemporânea”, destacam os autores.
Nesse ponto, a pesquisa dialoga com um tema recorrente na literatura educacional: a necessidade de integrar a educação midiática ao currículo, reconhecendo que o letramento digital vai muito além do saber técnico — envolve também dimensões políticas, éticas e sociais.
O papel da escola pública
Para Nascimento e Santos, a escola pública tem responsabilidade estratégica nesse processo, uma vez que lida diretamente com estudantes em contextos de vulnerabilidade social. Trabalhar a cidadania digital significa também enfrentar desigualdades históricas de acesso e uso crítico da tecnologia, para que a IA não se torne mais uma ferramenta de exclusão.
Em um momento em que governos e empresas disputam narrativas sobre os limites da inteligência artificial, o estudo reforça que o espaço escolar precisa ser um território de resistência e produção de pensamento crítico. “Não se trata apenas de preparar jovens para o mercado digital, mas de formar cidadãos conscientes de seu papel social diante das tecnologias emergentes”, concluem os pesquisadores.
Referência
NASCIMENTO, Márcio Silveira; SANTOS, Éber José dos. Cidadania digital e inteligência artificial: estratégias pedagógicas para o desenvolvimento do pensamento crítico. Revista de Educação e Ciências Humanas (REVEC), v. 23, n. 2, p. 1-20, 2025. DOI: [10.5281/zenodo.1234567]
