Santa Amélia (PR)– A festividade Tekoa Narã’i, realizada na terra indígena Laranjinha, no norte do Paraná, foi registrada em ensaio fotográfico publicado na Revista Internacional de Folkcomunicação (RIF) e revela como as práticas culturais do povo Guarani Nhandewa são, ao mesmo tempo, celebração, resistência e pedagogia. O trabalho, assinado por Danilo Mello Campassi e Jucelio Aparecido da Silva, mostra que a semana cultural da comunidade se transforma em espaço de fortalecimento étnico, educação intercultural e luta contra a exclusão histórica.
Entre os achados, o ensaio destaca:
- Arco e flecha como símbolo milenar: mais que ferramenta de caça e defesa, representa o alcance dos sonhos e integra competições que envolvem desde a infância.
- Oralidade e palavra-alma: a fala dos anciãos é valorizada como aywu, palavra-vida, reafirmando a centralidade da oralidade no processo educativo.
- Indumentárias e pinturas corporais: usadas como “segunda pele”, comunicam cosmologia, pertencimento e beleza, ainda que hoje precisem conviver com tintas sintéticas diante da devastação ambiental.
- Arte e artesanato: grafismos em cerâmicas, cestarias e pinturas funcionam como códigos de comunicação e fontes de renda, além de materializar memória ancestral.
- Culinária e rituais sagrados: alimentos tradicionais e réplicas da Casa de Reza Guarani expressam espiritualidade e reforçam o Nhandereko (modo de ser Guarani).
O estudo conclui que a Tekoa Narã’i não é apenas um evento festivo: é uma escola viva, que integra música, dança, arte, oralidade e pedagogia comunitária para transmitir saberes entre gerações. Além de reafirmar a identidade Guarani Nhandewa, a festividade funciona como prática de interculturalidade crítica, onde professores indígenas e não indígenas aprendem e ensinam lado a lado, numa experiência de educação bilíngue e anticolonial.
Referência
CAMPASSI, Danilo Mello; SILVA, Jucelio Aparecido da. Tekoa Narã’i: Festividade Cultural e Pedagógica Indígena do Povo Guarani Nhandewa. Revista Internacional de Folkcomunicação (RIF), v. 23, n. 50, p. 209-221, jan./jun. 2025. DOI: 10.5212/RIF.v.23.i50.0013.
Foto: https://www.anf.org.br/antes-do-brasil-da-coroa-ja-existia-o-brasil-do-cocar-2/
