Máquinas, redes e pessoas: a história da informática no Brasil e o desafio dos multiletramentos

O caminho que levou o Brasil à era digital foi longo, contraditório e profundamente político. Essa é a linha que costura o artigo “Máquinas, redes e pessoas: a evolução da informática no Brasil e seus impactos nos multiletramentos”, de Raphael Alves da Silva e Tícia Cassiany Ferro Cavalcante, ambos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), publicado na Revista Teias.

O texto propõe um olhar histórico sobre como o país passou da dependência tecnológica às tentativas de democratizar o acesso à informação — um processo ainda inconcluso. Desde os primeiros “cérebros eletrônicos” importados nos anos 1950 até a explosão das redes sociais, os autores mostram que a tecnologia sempre foi mediada por interesses econômicos e políticos, deixando marcas profundas na educação e na cultura digital.

Segundo o estudo, o Brasil nunca consolidou uma política tecnológica autônoma, optando por importar máquinas, softwares e até modelos de pensamento, o que contribuiu para a formação de um usuário mais consumidor do que criador. Essa trajetória, afirmam os autores, ainda se reflete na forma como os estudantes se relacionam com o digital: conectados o tempo todo, mas com pouca formação crítica para interpretar o que consomem.

A pesquisa também resgata o papel da imprensa como agente de letramento digital, destacando programas como o Globo Repórter dos anos 1990, que explicavam “o que é um computador” ao grande público, e matérias da Folha de S. Paulo que introduziam conceitos como “mundo virtual”. Esses esforços ajudaram a traduzir o impacto das máquinas no cotidiano, num momento em que a escola ainda não estava preparada para lidar com a revolução tecnológica.

Os autores alertam que, mesmo com a popularização dos computadores e celulares, a desigualdade digital continua sendo o principal obstáculo à cidadania tecnológica. As políticas educacionais, dizem, ainda reproduzem métodos importados e pouco contextualizados, o que impede o desenvolvimento de práticas pedagógicas baseadas em autoria, crítica e cultura local.

“Quando a escola não consegue acompanhar essas transformações de forma autônoma e crítica”, afirmam, “corre o risco de apenas reproduzir modelos prontos, distantes da realidade dos seus alunos”.

📖 Referência:
SILVA, Raphael Alves da; CAVALCANTE, Tícia Cassiany Ferro. Máquinas, redes e pessoas: a evolução da informática no Brasil e seus impactos nos multiletramentos. Revista Teias, v. 26, n. 83, out./dez. 2025. DOI: 10.12957/teias.2025.85024.

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