Em um tempo em que algoritmos parecem ditar ritmos de vida e decisões cotidianas, a pesquisadora Roberta Bocchi, da PUC-SP e da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, propõe uma reflexão radical: será que o avanço tecnológico acompanha, de fato, a evolução do ser humano?
O artigo “Cérebro e tecnologia: a odisseia da evolução humana em um mundo digital” revisita pensadores clássicos — de Sócrates a Descartes — e os coloca em diálogo com a neurociência contemporânea, numa tentativa de compreender como o cérebro, esse intrincado sistema de conexões e memórias, reage às mutações da era digital.
A autora descreve o cérebro humano como uma arquitetura em constante reconstrução, moldada por estímulos, ambientes e experiências. A chamada neuroplasticidade, lembra Bocchi, é o que nos torna adaptáveis — mas também vulneráveis à sobrecarga informacional e à dependência das máquinas. “Cada cérebro constrói sua própria realidade”, cita, retomando o neurocientista Christof Koch, para questionar se a sociedade digital está cultivando cérebros críticos ou apenas mentes condicionadas.
O texto se aprofunda ainda na relação entre genética e ambiente, mostrando como o comportamento humano resulta da tensão entre predisposição biológica e contexto social. Ao cruzar estudos de neurogenética e filosofia da mente, Bocchi argumenta que a tecnologia — embora poderosa — é apenas uma ferramenta, não um destino inevitável. “A verdadeira evolução humana reside na capacidade de lidar com nossa própria dicotomia”, conclui.
A pesquisadora defende que a educação é o espaço decisivo dessa transição, capaz de ensinar o ser humano a conviver com seu “fator humano” — suas falhas, afetos e ambiguidades — em meio ao turbilhão digital. Mais do que ensinar códigos, trata-se de ensinar consciência.
📖 Referência:
BOCCHI, Roberta. Cérebro e tecnologia: a odisseia da evolução humana em um mundo digital. Revista Lusófona de Estudos Culturais e Comunicacionais, v. 8, n. 2, 2025. DOI: 10.29073/naus.v8i2.998.
