Por Redação Archa
Você já tentou entrar no site da sua prefeitura pra entender quanto foi gasto, com quem foi o contrato, quem ganhou a licitação ou simplesmente onde foi parar o dinheiro do seu bairro?
Se sim, talvez tenha vivido uma das experiências mais frustrantes da vida pública digital: clicar, clicar, clicar… e não entender nada. Seja por excesso de siglas, falta de organização ou PDFs que parecem feitos pra espantar a população.
Pois é justamente sobre isso que trata o estudo de Tainara Frances Pereira de Souza, da Universidade Federal de Ouro Preto. Ela analisou o portal da transparência da Prefeitura de Três Marias-MG e descobriu que, embora a lei diga que tudo deve estar acessível, na prática, o que se vê é uma transparência com senha, CAPTCHA e manual em latim.
O que o estudo mostra:
- O portal tem até que um layout bonitinho, recursos de acessibilidade, tradução em Libras, busca por palavras…
- Mas falta o principal: clareza para o cidadão comum.
- Muitos dados estão lá, mas organizados de forma técnica demais, com pouca explicação ou contexto que permita entender o que aquilo significa para a vida real.
- Não há tutoriais, vídeos explicativos ou canais de escuta para o povo opinar, reclamar ou sugerir.
E isso não é só um problema de Três Marias. A pesquisa cita outros levantamentos que mostram que a maioria das prefeituras falha feio nos portais de transparência. Em Minas Gerais, 72% dos municípios com mais de 10 mil habitantes têm desempenho ruim ou péssimo quando o assunto é facilitar a vida de quem quer fiscalizar.
Mas pera: a Lei manda abrir os dados, não?
Sim. Desde 2011, a Lei de Acesso à Informação (LAI) garante que qualquer pessoa pode pedir e acessar informações públicas — sem justificativa. Mas como bem diz a pesquisadora: não adianta abrir os dados e esconder a chave da porta.
É o que ela chama de transparência tecnocrática: os dados estão ali, mas inacessíveis pra quem mais precisa deles. Uma transparência que mais confunde do que esclarece.
E o que pode melhorar?
Tainara propõe caminhos simples e eficientes:
- Criar vídeos explicando como navegar no portal;
- Promover campanhas para incentivar o uso cidadão dessas ferramentas;
- Ouvir a população com formularios de feedback, pesquisas e canais reais de escuta.
Parece básico, né? E é. Mas enquanto isso não acontece, seguimos com sites que deviam servir ao povo — e que mais parecem feitos pra manter o povo bem longe da fiscalização.
Por que isso importa pra você?
Porque a sua rua esburacada, o hospital sem médico e a escola sem material muitas vezes têm tudo a ver com decisões e gastos que já estão publicados — só que ninguém consegue entender. Informação só é poder quando é acessível. Caso contrário, é cortina de fumaça com design responsivo.
Referência:
SOUZA, Tainara Frances Pereira de. Como o acesso à informação pública pode melhorar a participação cidadã e a fiscalização das ações governamentais: uma análise do portal da Prefeitura de Três Marias-MG. Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto, 2025.
