Santa Maria, 22 de agosto de 2025 – Governança não é sinônimo automático de eficiência. Ao contrário do que o discurso institucional costuma vender, ela só se sustenta quando há participação cidadã, negociação real e processos decisórios transparentes. Esse é o achado central do artigo “Do governo à governança: uma análise histórica e conceitual”, publicado na Revista InterAção pelos pesquisadores Luciano Vaz Ferreira e Carla Froener.
O estudo revisita a trajetória da governança, desde suas raízes etimológicas até sua apropriação por organismos multilaterais, como o Banco Mundial, que difundiram a ideia de “boa governança” nos anos 1990. Segundo os autores, esse discurso inicial carregava forte viés normativo, muitas vezes impondo reformas neoliberais e pacotes de austeridade a países em desenvolvimento.
Mas a principal contribuição do artigo está na leitura contemporânea: governança deve ser entendida como um processo relacional que envolve conflito, cooperação e interdependência entre Estado, mercado e sociedade civil. Não basta avaliar resultados — é preciso analisar como se decide, quem participa e quais interesses prevalecem.
Para Ferreira e Froener, a legitimidade dos arranjos de governança não está garantida pelo rótulo de “boa”, mas pela qualidade democrática dos processos. Isso significa que conselhos, fóruns, deliberações coletivas e mecanismos de controle social são mais determinantes do que indicadores de performance isolados. O Estado, longe de desaparecer, segue como articulador e garantidor de direitos — mas precisa compartilhar poder em redes de coprodução e cogestão.
O artigo conclui que a governança contemporânea é campo de disputa: pode tanto reproduzir desigualdades se capturada por interesses hegemônicos, quanto abrir caminhos emancipatórios ao fortalecer participação cidadã e transparência institucional.
Referência
FERREIRA, Luciano Vaz; FROENER, Carla. Do governo à governança: uma análise histórica e conceitual. Revista InterAção, Santa Maria, v. 16, n. 3, e92862, p. 1-17, jul./set. 2025. DOI: https://dx.doi.org/10.5902/2357797592862.
