A Receita Federal, em conjunto com diversos órgãos parceiros, deflagrou nesta quinta-feira (28) a Operação Carbono Oculto, considerada a maior já realizada contra o crime organizado no Brasil em termos de cooperação institucional e amplitude. O objetivo é desmantelar um sofisticado esquema de fraudes fiscais, adulteração de combustíveis e lavagem de dinheiro que movimentou cifras bilionárias entre 2020 e 2024.
As investigações revelaram que cerca de mil postos de combustíveis vinculados ao grupo movimentaram R$ 52 bilhões no período, com recolhimento de tributos muito abaixo do esperado. Uma fintech ligada à organização atuava como verdadeiro “banco paralelo”, movimentando sozinha R$ 46 bilhões de forma não rastreável. Além disso, pelo menos 40 fundos de investimento serviram para ocultar e blindar patrimônio, incluindo terminais portuários, usinas de álcool, imóveis de alto padrão e fazendas avaliadas em milhões de reais.
A operação cumpre mandados de busca e apreensão em aproximadamente 350 alvos, distribuídos por 54 cidades em oito estados. Apenas em São Paulo, cidade que concentrou o maior número de investigados, foram 147 mandados. Também foram atingidos municípios como Guarulhos, Barueri, Ribeirão Preto, Campinas e Osasco. Em Goiás, Senador Canedo registrou 10 alvos. No Mato Grosso do Sul, Iguatemi concentrou sete mandados. Outros estados envolvidos são Espírito Santo, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional ingressou com ações cíveis que resultaram no bloqueio de mais de R$ 1 bilhão em bens, incluindo imóveis, veículos e equipamentos, a fim de garantir a cobrança de créditos tributários. Só a Receita Federal já constituiu, até o momento, mais de R$ 8,67 bilhões em autos de infração contra pessoas e empresas do esquema.
O esquema utilizava empresas importadoras e distribuidoras como interpostas pessoas para introduzir combustíveis no mercado interno sem o devido pagamento de tributos. Houve também o desvio de metanol importado para adulterar gasolina, em prejuízo direto aos consumidores. Lojas de conveniência, padarias e administradoras de maquininhas de cartões foram igualmente utilizadas para dar aparência de legalidade ao dinheiro ilícito.
Outro ponto relevante identificado pelos auditores foi o uso de brechas regulatórias por instituições de pagamento digitais, que operavam por meio de “contas-bolsão”, dificultando o rastreamento individual de valores. O problema se agravou após a revogação, em 2025, de alterações normativas da Receita Federal que visavam dar mais transparência ao setor, derrubadas em meio à circulação de fake news.
O nome da operação, Carbono Oculto, traduz de forma metafórica a ideia de dinheiro escondido dentro da cadeia do combustível, relacionando o elemento químico presente na gasolina e no diesel ao ato de ocultar recursos ilícitos em fintechs e fundos de investimentos.
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Referência
RECEITA FEDERAL. Operação Carbono Oculto: Receita Federal e órgãos parceiros combatem organização criminosa responsável por sonegação, lavagem de dinheiro e outras fraudes no setor de combustíveis. Brasília, 28 ago. 2025.
