Dissertação aponta desafios de professores para aplicar Lei que obriga ensino de culturas indígenas

Pesquisa da UFRGS revela que educadores de Porto Alegre ainda enfrentam inseguranças e falta de apoio para trabalhar saberes originários nas aulas de Geografia

Uma dissertação de mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRGS traz à tona um debate urgente: como os professores de Geografia têm lidado com a Lei 11.645/2008, que torna obrigatório o ensino da história e da cultura indígena nas escolas de educação básica.

A pesquisa, assinada por Lúcio de Souza Gastal e orientada pela professora Roselane Zordan Costella, ouviu docentes de três escolas municipais de Porto Alegre. O estudo mostra que, embora alguns professores conheçam a legislação, a prática pedagógica intercultural ainda enfrenta entraves: falta de materiais adequados, ausência de formação continuada e carência de incentivos institucionais.

Gastal optou pela pesquisa narrativa (auto)biográfica, valorizando as falas dos educadores. O resultado é um retrato das dificuldades e, ao mesmo tempo, da potência que os saberes indígenas carregam para uma educação crítica, plural e descolonizadora. “Mais do que cumprir a lei, é preciso reconhecer que os conhecimentos indígenas são fundamentais para formar cidadãos preparados para conviver de forma respeitosa com o outro”, afirma o pesquisador.

O trabalho também contextualiza a pesquisa no cenário político recente, lembrando que, entre 2019 e 2022, o governo Bolsonaro paralisou demarcações de terras e naturalizou a violência contra povos originários. Mesmo com avanços simbólicos, como a criação do Ministério dos Povos Indígenas em 2023, a violência e os ataques persistiram.

Para o autor, o desafio é romper com a folclorização dos povos indígenas, ainda presente em datas comemorativas escolares, e construir práticas que integrem efetivamente os conhecimentos originários na disciplina de Geografia.

Comentário crítico: quando a lei vira apenas mais uma “tarefa” para professores, perde-se a chance de transformar a escola em espaço de diálogo e reparação histórica. O estudo mostra que, enquanto faltam recursos e vontade política, sobra resistência docente — e é nela que repousa a esperança de uma educação intercultural.


📌 Referência:
GASTAL, Lúcio de Souza. Saberes indígenas no ensino de Geografia, o que nós professores temos a dizer sobre isso? Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2025.

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