Da catequese à autogestão: povos indígenas reivindicam protagonismo na educação escolar

A trajetória da educação escolar indígena no Brasil revela um caminho marcado por imposição, resistência e, mais recentemente, protagonismo. Se no período colonial a escola foi utilizada como instrumento de catequização e assimilação cultural, provocando apagamento de línguas e tradições, hoje os movimentos indígenas lutam por uma educação diferenciada, bilíngue e intercultural, construída a partir de seus próprios projetos e valores.

O estudo de Ana Carolina da Silva e Poliene Soares dos Santos Bicalho mostra que a escola, outrora espaço de integração forçada, tornou-se um campo de resistência e afirmação identitária. A partir da década de 1970, o Movimento Indígena brasileiro passou a organizar assembleias, associações e encontros de professores indígenas — como a COPIAR (Comissão de Professores Indígenas do Amazonas, Roraima e Acre) — que transformaram o debate educacional em pauta de luta política.

Marcos legais como a Constituição de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases (1996) e a Lei 11.645/2008, que tornou obrigatório o ensino da história e cultura indígena, representam conquistas fundamentais. Contudo, os desafios permanecem: escolas precárias, falta de materiais didáticos específicos e pouca valorização de professores indígenas ainda marcam a realidade.

Segundo as autoras, a educação indígena atual oscila entre dois modelos: a “educação para indígenas”, imposta pela sociedade dominante e centrada na assimilação, e a “educação dos indígenas”, concebida e gerida pelos próprios povos, que valoriza línguas, saberes e modos de vida ancestrais. É nessa diferença que se decide o futuro da escola indígena no Brasil — se será mecanismo de homogeneização ou ferramenta de autonomia cultural.

A pesquisa conclui que o desafio contemporâneo não está apenas em garantir o direito à escola, mas em assegurar que ela seja construída com os povos indígenas e não para eles, como um espaço de diálogo entre saberes, fortalecimento de identidades e afirmação da diversidade.


Referência

SILVA, Ana Carolina da; BICALHO, Poliene Soares dos Santos. Escutar para Educar: da Imposição à Reivindicação de uma Educação Escolar Indígena. [S.l.: s.n.], [2025].


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