Injustiça ambiental e exclusão social: o drama dos lixões em territórios amazônicos

Por Redação Archa

Em Amarante do Maranhão, o lixo não é apenas um problema técnico — é um retrato das desigualdades estruturais que marcam a Amazônia. O estudo “Injustiça Ambiental e Exclusão Social: o dilema da gestão dos resíduos em territórios amazônicos” traz à tona um cenário em que degradação ambiental e vulnerabilidade social se entrelaçam, denunciando a distância entre a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e a realidade das cidades pequenas.

A pesquisa, conduzida por Tályta Carine da Silva Saraiva (UFPI) em coautoria com Ana Júlia Silva Franco, David Kauã Ribeiro, Gladson Diniz Pinheiro, Guilherme Lima Santos, Maria Isabella de Sousa e Mirya Bezerra Viana Marinho, investigou o lixão a céu aberto de Amarante do Maranhão — um retrato simbólico da injustiça socioambiental que ainda impera em territórios amazônicos.

O local, sem controle de acesso ou drenagem, recebe resíduos domésticos, comerciais e hospitalares. O solo contaminado, as águas envenenadas e o ar saturado de gases tóxicos formam o pano de fundo da vida de famílias que dependem da catação como único meio de sobrevivência. “Os catadores trabalham sem equipamentos, sem vínculo e sem reconhecimento institucional”, descreve o estudo.

Segundo o IBGE (2024), 31,9% dos municípios brasileiros ainda utilizam lixões como destino final do lixo. No Maranhão, o número é ainda mais dramático: mais de 80% dos municípios recorrem a essa prática, contrariando a legislação federal. O quadro revela o que o pesquisador Carlos Acselrad (2010) chamou de “geografia da desigualdade ambiental” — quando a degradação se concentra justamente onde a população é mais pobre e invisibilizada.

O trabalho evidencia também o racismo ambiental: “populações pobres e, muitas vezes, negras ou indígenas são expostas de forma desproporcional aos efeitos da degradação ambiental”, apontam os autores, ecoando estudos de Steinbrenner et al. (2020).

Ao final, o grupo propõe um conjunto de medidas que vão além da técnica e abraçam a ética: a implantação de um aterro sanitário licenciado, o fortalecimento da coleta seletiva e a educação ambiental territorializada. São caminhos que buscam transformar a realidade de Amarante — e inspirar políticas públicas mais justas em toda a Amazônia Legal.

“A injustiça ambiental não é apenas uma questão ecológica, mas um problema político e ético. Superá-la exige reconhecer o valor dos sujeitos historicamente marginalizados e incluir a sustentabilidade como direito humano.” — conclui o estudo.


Referência
SARAIVA, Tályta Carine da Silva; FRANCO, Ana Júlia Silva; RIBEIRO, David Kauã; PINHEIRO, Gladson Diniz; SANTOS, Guilherme Lima; SOUSA, Maria Isabella de; MARINHO, Mirya Bezerra Viana. Injustiça ambiental e exclusão social: o dilema da gestão dos resíduos em territórios amazônicos. In: Meio Ambiente: Estudos Interdisciplinares. São Luís: Aurum Editora, 2025. DOI: 10.63330/aurumpub.017-002.

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