Em meio à complexidade da maior rede pública de Atenção Básica da América Latina, um projeto técnico de estágio da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo propõe uma inovação que pode redefinir o acesso à saúde na metrópole: a institucionalização da mediação intercultural via teleassistência.
O estudo, desenvolvido por Giovana Graceliano da Silva Bonfim e Gustavo Leite da Costa na Divisão de Atenção Primária à Saúde, foi apresentado ao Prêmio “Melhores Práticas de Estágio da Prefeitura de São Paulo – 2025”, e está alinhado ao tema “Planos Municipais em Ação: Conectando Estratégias para Transformar São Paulo”mediacao-intercultural_saude.
A proposta parte de um diagnóstico contundente: barreiras linguísticas e culturais comprometem a qualidade do cuidado e a segurança da comunicação entre profissionais e usuários nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). São Paulo atende pessoas de 195 nacionalidades, além de populações indígenas, e registrou mais de 94 mil atendimentos a imigrantes apenas no primeiro semestre de 2025mediacao-intercultural_saude.
O projeto propõe que profissionais bilíngues ou multilíngues atuem como mediadores interculturais em consultas realizadas por teleinterconsulta, servindo como ponte entre usuários e equipes de saúde. Mais do que tradutores, esses mediadores seriam agentes de diálogo cultural, prevenindo conflitos, fortalecendo vínculos e garantindo um atendimento mais humano e éticomediacao-intercultural_saude.
“A fragilidade de estar doente e não conseguir se comunicar é uma dura realidade para muitos imigrantes, refugiados, apátridas e indígenas que vivem em São Paulo”, apontam os autores.
A iniciativa dialoga diretamente com o Plano Municipal de Promoção da Igualdade Racial (PMIR), o Plano Municipal de Saúde (2022–2025) e o Plano Plurianual (2022–2025), reforçando o compromisso com a Universalidade, Integralidade e Equidade — os três pilares constitucionais do SUS. Também está em conformidade com a Lei nº 17.718/2021, que regulamenta a teleassistência no município, e com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), garantindo confidencialidade e ética profissional no manuseio das informações de saúdemediacao-intercultural_saude.
Além de fortalecer a comunicação, a proposta busca melhorar os indicadores de saúde, ampliar a cobertura vacinal, otimizar recursos e reduzir desigualdades estruturais. O uso da plataforma e-Saúde-SP permitirá que mediadores atuem remotamente em várias unidades, ampliando o alcance sem elevar custos operacionais.
Ao final, o projeto defende que a comunicação é também um ato de cuidado. A criação de protocolos, ferramentas multilíngues e o reconhecimento formal do papel do mediador intercultural são passos essenciais para que a saúde pública deixe de ser apenas universal e se torne verdadeiramente plural, diversa e acolhedoramediacao-intercultural_saude.
Referência
BONFIM, Giovana Graceliano da Silva; COSTA, Gustavo Leite da. Entre línguas e culturas: a teleassistência na institucionalização da mediação intercultural na Atenção Básica para populações imigrantes, refugiadas, apátridas e indígenas. São Paulo: Secretaria Municipal da Saúde, 2025.
