Estudo aponta que pressão de bancos e grandes empresas levou ao impeachment de Dilma Rousseff

O afastamento da presidenta Dilma Rousseff, em 2016, não aconteceu apenas por causa de erros políticos ou disputas no Congresso. Segundo um estudo produzido na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o impeachment foi resultado da pressão de grandes grupos econômicos, especialmente bancos, investidores e grandes empresas, que passaram a exigir mudanças na economia brasileira após a crise mundial de 2008.

O Trabalho de Conclusão de Curso “Burguesia e capital financeiro durante o governo Dilma (2011–2016)”, de Isadora Broering Fortes de Mattos, analisa o período e conclui que, quando o governo deixou de garantir lucros elevados e estabilidade para esses setores, a tolerância política acabou.

O estudo explica que, depois da crise internacional de 2008, o dinheiro ficou mais caro no mundo todo e os investidores passaram a cobrar cortes de gastos, redução de direitos trabalhistas e menos presença do Estado na economia. Países como o Brasil, que dependem de exportações e de capital estrangeiro, sentiram esse impacto de forma mais dura.

Durante os primeiros governos do PT, foi possível manter um certo equilíbrio: o governo ampliava programas sociais, valorizava o salário mínimo e, ao mesmo tempo, garantia crédito barato e incentivos para grandes empresas. Esse arranjo funcionou enquanto a economia crescia. Quando o crescimento desacelerou, esse acordo informal começou a ruir.

A pesquisa mostra que empresários industriais, bancos e investidores passaram a defender abertamente mudanças profundas, como cortes em políticas sociais, congelamento de gastos públicos e flexibilização das leis trabalhistas. Quando o governo Dilma resistiu a aplicar esse pacote com mais força, esses grupos passaram a apoiar sua saída do poder.

Segundo o trabalho, o impeachment funcionou como uma “troca de comando” para garantir que essas mudanças fossem feitas. Após a queda de Dilma, o governo seguinte aprovou rapidamente medidas como o teto de gastos, a reforma trabalhista e políticas de austeridade que reduziram o papel do Estado e afetaram diretamente serviços públicos e direitos dos trabalhadores.

O estudo também destaca que esse processo não foi apenas brasileiro. Em vários países, após a crise de 2008, governos passaram a ser pressionados por mercados financeiros e grandes investidores a cortar gastos sociais para manter a confiança do capital internacional.

Ao final, a autora conclui que o impeachment de Dilma Rousseff não pode ser explicado apenas como um julgamento político ou jurídico. Ele foi parte de um movimento maior para recolocar a economia brasileira sob controle dos interesses do sistema financeiro e das grandes empresas, mesmo que isso significasse perda de direitos e aumento das desigualdades sociais.


Referência

MATTOS, Isadora Broering Fortes de. Burguesia e capital financeiro durante o governo Dilma (2011–2016): uma análise do cenário nacional e internacional pós-crise de 2008. Trabalho de Conclusão de Curso (Relações Internacionais) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2025.

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