Ontem, com pesar, recebi a notícia da morte de Niéde Guidon, uma das maiores arqueólogas da história brasileira — mulher que não apenas desenterrou ossos e vestígios de milênios passados, mas também desnudou a negligência estrutural de um país que reluta em valorizar sua ancestralidade.
Niéde foi mais do que a guardiã do Parque Nacional da Serra da Capivara. Foi pedra angular na luta pela preservação da memória indígena, da arte rupestre, da ciência comprometida com o território e com os povos originários. Uma cientista que enfrentou governos, corporações, negacionismos — e venceu, ao menos enquanto teve forças, construindo museus, escolas e pontes onde só havia omissão.
Poucos dias antes, soube que Pirulla, divulgador científico que admiro há mais de uma década, sofreu um AVC. E senti como se a razão também tivesse sido golpeada. Pirulla me ensinou que é possível fazer da ciência algo palatável, provocador, ético — sem abrir mão do rigor. Seus vídeos sobre evolução humana, cosmologia, paleontologia, história crítica e a desconstrução de mitos coloniais foram minha porta de entrada para o estudo sistemático da Antropologia e da História.
Entre os fósseis de Guidon e as playlists de Pirulla, nasceu em mim uma chama inquieta: a necessidade de entender o que nos constitui enquanto humanidade. Mas não apenas para saber de onde viemos — e sim para transformar onde estamos.
Hoje, sou educador. E mais do que isso: sou especialista em Educação Indígena, comprometido com uma pedagogia que rompa com a monocultura epistemológica imposta pela escola colonial. Se cheguei até aqui, foi porque mulheres como Guidon abriram clareiras na mata do esquecimento, e pensadores como Pirulla nos deram ferramentas para decifrar as pegadas.
Aos que acham que ciência é neutra, digo: ela é sempre encruzilhada política, escolha ética, compromisso histórico. E é por isso que, mesmo em tempos de luto ou incerteza, reafirmo: a educação só cumpre seu papel quando honra os mortos sem silenciar os vivos.
Obrigado, Niéde. Força, Pirulla. A trilha segue. E eu sigo nela — com vocês no pensamento, na prática e na luta.

Descobri que o Pirulla era crítico da Niede, provavelmente pela questão da teoria da ocupação americana através do Estreito de Bering, não é? Que os estudos da Niede refutaram.
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