Modelo educacional industrial entra em colapso diante da era digital, aponta estudo

Uma pesquisa conduzida por Walkiria de Carvalho Pereira Tozi, Luciana Spolon e Luiz Antonio Tozi, da Faculdade Cristã da Cidade (São José dos Campos/SP), alerta que o sistema educacional brasileiro permanece estruturado sobre um modelo industrial ultrapassado, incapaz de responder às transformações do trabalho e às exigências cognitivas da economia digital. O artigo, intitulado “Além do modelo industrial: educação, trabalho e o novo contrato social” (Revista Ciências Exatas, v. 31, n. 2, 2025), propõe uma revisão radical da relação entre ensino, emprego e cidadania, defendendo a criação de um novo contrato social pautado pela integração entre educação, tecnologia e trabalho colaborativo.

A crise do paradigma fabril

O estudo parte da constatação de que a escola moderna ainda opera segundo o paradigma produtivista da Revolução Industrial: tempo cronometrado, padronização de conteúdos, hierarquia rígida e avaliação centrada na repetição. Esse formato, segundo os autores, “funcionou enquanto o trabalho era previsível e as profissões estáveis”, mas entrou em crise diante da automação, da inteligência artificial e da fluidez das carreiras.
A pesquisa observa que a educação formal ainda prepara estudantes para funções que deixaram de existir e falha em desenvolver competências críticas como criatividade, empatia, pensamento sistêmico e resolução de problemas complexos — habilidades hoje centrais à sobrevivência profissional.

O novo contrato social da aprendizagem

O texto articula aportes da economia, sociologia e filosofia da educação para sustentar que o século XXI exige a fusão entre aprender e trabalhar — um conceito que os autores denominam Learning & Working Fusion.
Essa proposta rompe com a lógica linear da formação (estudo → emprego → aposentadoria) e defende o princípio da aprendizagem ao longo da vida como base da cidadania digital.
Para que isso ocorra, a pesquisa aponta três eixos estruturais:

  1. Inclusão digital universal, como direito de acesso e produção de conhecimento;
  2. Reforma da formação docente, com foco em metodologias ativas, competências socioemocionais e mediação tecnológica;
  3. Políticas públicas robustas, que integrem educação, inovação e trabalho decente.

Desigualdades e urgências

O artigo ressalta que a transição digital aprofunda desigualdades entre quem tem acesso a tecnologias e quem permanece excluído delas. Citando dados de organismos internacionais, o estudo lembra que, até 2030, 85 milhões de postos de trabalho poderão ficar vagos globalmente por falta de qualificação para funções digitais. No Brasil, esse déficit tende a reproduzir o fosso histórico entre regiões e classes sociais, caso a escola não se converta em espaço de inclusão tecnológica e emancipação crítica.

Da política à prática

Para os autores, o desafio não é apenas atualizar currículos, mas redefinir o papel social da escola. A educação, afirmam, precisa ser tratada como política de inovação e justiça social, e não apenas como serviço de formação técnica.
O estudo defende que governos e instituições de ensino atuem de forma colaborativa, estimulando redes de aprendizagem entre empresas, universidades e comunidades locais. Essa abordagem integradora, segundo os pesquisadores, seria a única capaz de alinhar educação, trabalho e cidadania às exigências da sociedade digital e à sustentabilidade democrática.


Referência:
TOZI, Walkiria de Carvalho Pereira; SPOLON, Luciana; TOZI, Luiz Antonio. Além do modelo industrial: educação, trabalho e o novo contrato social. Revista Ciências Exatas, v. 31, n. 2, Taubaté/SP, 2025. DOI: https://doi.org/10.69609/1516-2893.2025.v31.n2.a4044.

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