O avanço das tecnologias educacionais tem transformado o cotidiano das escolas brasileiras, mas nem sempre de forma positiva. Um estudo publicado na Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação (REASE) em agosto de 2025 acende um alerta importante: o uso de ferramentas de vigilância digital no ambiente escolar pode comprometer direitos fundamentais, como a privacidade e a autonomia dos estudantes.
Assinado por oito pesquisadoras e pesquisadores vinculados à Must University, o artigo “Educação em tempos de vigilância digital” aponta que a coleta de dados por meio de plataformas digitais, sistemas automatizados e recursos de inteligência artificial já faz parte da rotina escolar, muitas vezes sem a devida transparência, respaldo legal ou formação adequada de educadores.
A pesquisa destaca que não basta garantir acesso a dispositivos e internet — é preciso promover letramento crítico e formação ética para que as tecnologias sejam usadas com responsabilidade. Quando mal implementadas, as práticas de monitoramento podem se tornar formas de controle comportamental, reforçando desigualdades e afetando negativamente o processo de aprendizagem.
Os autores chamam atenção especial para os riscos da inteligência artificial aplicada à infância. A coleta automatizada de dados sobre comportamento, preferências e desempenho de crianças pode impactar diretamente sua formação, caso não seja acompanhada de políticas de proteção de dados e mediação pedagógica qualificada.
Outro ponto de destaque no artigo é a fragilidade das instituições frente à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Muitas escolas ainda não possuem protocolos claros sobre o uso de dados educacionais, o que pode resultar em práticas violadoras de direitos e, em última instância, no esvaziamento da relação pedagógica baseada na confiança.
A conclusão é clara: a segurança digital precisa ser compreendida como parte da formação cidadã, não como um item técnico ou acessório da modernização. Isso exige políticas públicas, participação da comunidade escolar e, principalmente, o protagonismo docente como mediador ético das tecnologias em sala de aula.
O estudo propõe um novo olhar para o uso da tecnologia na educação — um olhar que priorize a dignidade humana, o respeito à privacidade e a formação integral dos sujeitos. Em tempos de algoritmos e dados em tempo real, garantir o direito à educação passa também por defender o direito à invisibilidade, quando necessário.
Referência:
MARQUES, Gleibiane Sousa et al. Educação em tempos de vigilância digital. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação – REASE, São Paulo, v. 11, n. 8, ago. 2025. DOI: 10.51891/rease.v11i8.20551.
